Lancei-me
no desafio de transformar um conceito musicalnum plástico passando
abusivamente de uma linguagem para outra sem seguirqualquer regra. Paul Desmond, criou em 1959, um tema a quechamou take five e que utiliza umanova forma de contar, em quíntuplos. Não
setrata da passagem direta de uma linguagem para outra mas antes da
apropriaçãode um conceito contido na composição musical. Como na música,
as formasplásticas ocupam espaço e esse espaço tanto pode ser de
silêncio, som ou forma.É daqui que parto, entre a forma e o espaço e a
sua ocupação racional de umamaneira silenciosa.
O
homem é um construtor e como tal cria continuamentecasulos para se
separar, proteger, sobreviver ao mundo natural. Isola espaçosque passam a
ser seus, impõe regras conceptuais à paisagem mas, mesmo assim,dentro
de cada casulo ocupado está um bicho que nunca corta a sua ligação com
anatureza. Cria então numerosas teorias para explicar a sua profunda
vontade deviver em casulos isolando o seu espaço introspectivo, a
consciência também seconstitui como um casulo, do seu casulo exterior o corpo
que lhe lembrará toda a vida que é um bicho sujeito àsregras da
Natureza. Ser concebido, nascer, crescer, morrer e transformar-se
emmatéria que a natureza controla como e quando lhe for necessário.
A
palavra take também significa uma performance de um sófolego. Por isso
encenei os meus personagens sobre um plateau onde cristalizam um take.
Nele vão assumindo várias formasde tomar o espaço com o corpo, portanto
comunicando através da mímica, aquitomada como um código social. Estes
códigos permitem ao homem manter o seuespaço privado fora de perigo,
longe do seu casulo de segurança, o outro nuncainvadirá o seu espaço.
Mas
o bicho que sobrevive em nós tenta desesperadamentecriar laços com os
outros. Assim ensaia ligações que realmente crescem dentrodele. Mas
crescerão essas ligações também dentro dos outros em relação a ele?
Dulce Nunes
performance
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