quinta-feira, 16 de maio de 2013

O CORPO | Inês Leitão


Inês Leitão cria a sua primeira instalação numa homenagem ao corpo.

Nesta instalação aborda o discurso da corporeidade (o corpo-depositário VS corpo-efervescente) utilizando um corpo nu feminino enquanto lugar de escrita mas sobretudo enquanto depósito de conflito e de memória.

A partir de uma frase de Susan Sontag “ Como não sei quais são os meus reais sentimentos confio que outros me digam” a performance integra um espaço minimalista onde uma actriz em nu integral - desprovida de qualquer barreira física ou material - se expõem ao espectador - corpo - efervescente para ser escrita numa materialização de mensagem onde a sua pele se metamorfoseia em papel.

Durante 3 horas de performance, o público é convidado a utilizar um marcador preto que lhe é disponibilizado na instalação e com ele deixar um registo escrito: no braço, na perna ou no queixo, movimentando o Corpo em proveito da escrita.
Do outro lado, um corpo nu, vazio, indiferente, a existir enquanto recetáculo de medos e afetos.


Criação e conceção: Inês Leitão

Performer: Sofia Peixoto



quinta-feira, 2 de maio de 2013

TAKE... SPACE IN SILENCE | Dulce Nunes


Lancei-me no desafio de transformar um conceito musicalnum plástico passando abusivamente de uma linguagem para outra sem seguirqualquer regra. Paul Desmond, criou em 1959, um tema a quechamou take five e que utiliza umanova forma de contar, em quíntuplos. Não setrata da passagem direta de uma linguagem para outra mas antes da apropriaçãode um conceito contido na composição musical. Como na música, as formasplásticas ocupam espaço e esse espaço tanto pode ser de silêncio, som ou forma.É daqui que parto, entre a forma e o espaço e a sua ocupação racional de umamaneira silenciosa.

O homem é um construtor e como tal cria continuamentecasulos para se separar, proteger, sobreviver ao mundo natural. Isola espaçosque passam a ser seus, impõe regras conceptuais à paisagem mas, mesmo assim,dentro de cada casulo ocupado está um bicho que nunca corta a sua ligação com anatureza. Cria então numerosas teorias para explicar a sua profunda vontade deviver em casulos isolando o seu espaço introspectivo, a consciência também seconstitui como um casulo, do seu casulo exterior o corpo que lhe lembrará toda a vida que é um bicho sujeito àsregras da Natureza. Ser concebido, nascer, crescer, morrer e transformar-se emmatéria que a natureza controla como e quando lhe for necessário.

A palavra take também significa uma performance de um sófolego. Por isso encenei os meus personagens sobre um plateau onde cristalizam um take. Nele vão assumindo várias formasde tomar o espaço com o corpo, portanto comunicando através da mímica, aquitomada como um código social. Estes códigos permitem ao homem manter o seuespaço privado fora de perigo, longe do seu casulo de segurança, o outro nuncainvadirá o seu espaço. 

Mas o bicho que sobrevive em nós tenta desesperadamentecriar laços com os outros. Assim ensaia ligações que realmente crescem dentrodele. Mas crescerão essas ligações também dentro dos outros em relação a ele? 

Dulce Nunes